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Oportunidades laborais na pauta da Diversidade e Inclusão

Oportunidades laborais na pauta da Diversidade e Inclusão

Por: Luciane Frazão, Ph.D

Bauman (2001) continua se fazendo transversal em tempos de movimentos da sociedade contemporânea, uma vez que a liquidez com a qual nos relacionamos torna os modelos transitórios. Há uns dias, um amigo me enviou um artigo falando sobre a desmobilização que estava ocorrendo por parte de algumas empresas a respeito da pauta da diversidade e inclusão. As referidas empresas alegavam não ser mais necessário direcionar orçamento e profissionais para setores que se preocupassem com a inclusão de colaboradores.

Um aspecto instigador é de que a desmobilização de setores de diversidade no mundo corporativo não significa a desmobilização da pauta, pois a mesma ainda se faz necessária em atenção à garantia de direitos e as possibilidades de suporte para a participação dos colaboradores. Acrescento a essa reflexão o conceito de interseccionalidade, pois algumas vivências de elaboração de suportes à inclusão são fragmentadas pelas camadas sociais _ deficiência, gênero, etnia, crença religiosa _ que insistem em não cooperar com a compreensão do cenário.

Não consigo acessar que as empresas, as instituições não vislumbrem a importância de desenvolver estratégias mais empáticas dentro de suas equipes. Estratégias amparadas na acessibilidade e diversidade contribuem para a construção de equipes que tangenciam com maior propriedade as etapas dos processos de trabalho e a divisão de tarefas em acordo com os talentos dos colaboradores. Estratégias mais inclusivas ajudam na construção da sinergia das equipes, entendendo as diferenças e contribuindo na elaboração de diferentes instrumentos de trabalho.

Não seria o caso de rever a conduta dos setores de diversidade e inclusão das instituições?!

O gerente de uma empresa me procurou para dialogar sobre o desligamento de um colaborador. Ele narrou que o mesmo passou por processo seletivo junto ao RH e chegou ao seu setor com a informação de que necessitaria de auxílio em sua locomoção. Infelizmente, passados alguns meses, a sinergia do colaborador com o restante da equipe não ocorreu e ele foi demitido. Estive com o profissional e, após avaliação funcional, identifiquei outras necessidades, de suporte cognitivo. Por fim, o feedback dado ao gerente envolveu alguns aportes psicopedagógicos, que poderiam ter sido realizados pelo setor de diversidade e inclusão em colaboração com o RH.

Foto de Yan Krukau no Pexels

Neste ponto, Moscovici (2003) é uma referência profícua para pensarmos as representações que emergem das condutas dos diferentes personagens deste cenário. Cada tomada de decisão é um ato social de caráter identitário que pode contribuir para uma rotulação de sujeitos e esquemas interpessoais; ou, pode contribuir para elaboração de esquemas relacionais e acolhimento de sujeitos talentosos.

Os sujeitos talentosos é outro aspecto instigante dessa relação de oportunidades laborais inclusivas e mundo corporativo. Mas, este aspecto me remete ao papel da Educação neste cenário e, como sua atuação assertiva pode desencadear novas ancoragens para as diferenças na sociedade.

O percurso da Educação Inclusiva apoiou o desenvolvimento de ferramentas expressivas para apoiar a aprendizagem e contribuir para o progresso da sociedade. Na medida em que a flexibilização curricular foi uma aposta necessária para a melhoria da qualidade dos processos de aprendizagem, entendemos que abordar e estimular as habilidades acadêmicas oferecem maior aderência do que uma abordagem conteudista. O desenvolvimento de habilidades leva a construção de trajetórias de conhecimento e interlocução com as realidades cotidianas, fazendo do saber uma aprendizagem significativa. Compondo as trilhas de aprendizagem, os sujeitos aprendentes com necessidades específicas, além de se apropriarem do conhecimento, são apresentados a esfera da orientação profissional.

Valeria um diálogo mais profundo sobre habilidades acadêmicas, habilidades intelectuais, mediação de aprendizagem nos segmentos educacionais e, como o estímulo ao desenvolvimento das habilidades aprimoram competências, fazendo dos conteúdos escolares facilitadores do processo e não o produto final. Mas, deixemos esse diálogo para um texto futuro.

Gostaria de alinhavar como Mundo do Trabalho e Educação podem ser frutos de perspectivas inclusivas quando a visão corporativa entende que diversidade e inclusão não é um setor, mas uma pauta social. Programas específicos objetivam desenvolver a comunicação inclusiva e promover uma cultura de respeito e empatia.

 

Referências Bibliográficas

BAUMAN, Z. A Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis: Vozes, 2003.

Luciane Frazão – Pós doutora em Ciências Humanas, ênfase no desenvolvimento humano. Dra Educação e Psicopedagoga. Pesquisadora nas áreas de Educação Inclusiva e Tecnologias Assistivas. Consultora em Diversidade, Acessibilidade e Inclusão.

Pesquisador e Ph.D em Educação pela European International University (França), com diploma Revalidado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Graduado em Direito e Especialista em Direito Educacional. Fundador, Presidente e Reitor advitam da Logos University International. Primeiro brasileiro homenageado pela Casa Legislativa do Estado do Texas pela sua honra e distinção na área da Educação.

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